Seja Grato!


Li uma reportagem que falava sobre um paciente internado com covid. Num relato emocionante, ele diz que queria ter no seu quarto apenas uma janela pra poder olhar o mundo exterior nem que fosse pela última vez. Penso na falta que ele sentia de contemplar o céu azul, os pássaros voando e as árvores balançando num fim da tarde de um dia de outono. Deixara sua cama desarrumada, seu carregador na tomada, seu chinelo na varanda, a comida no fogão, a roupa na máquina, a família em casa sem saber se um dia voltaria para lá. O dinheiro na conta se tornou supérfluo, o carro na garagem inútil, o celular inválido e as roupas de marca, indiferentes. Trocaria tudo por um pulmão novo. Daria tudo pra ter a autonomia de respirar, de poder andar, comer, tomar banho usando suas próprias mãos e não as dos outros. Não tive essa doença e sinceramente não sei se terei. O que sei é que perdi irmãos, familiares, amigos... Pessoas que conheço pela tv, outras que não conheci. Famílias de perto e de longe que choram e vivem a dor do luto. Pessoas que só queriam mais uma chance... Uma chance pra amar, perdoar e pedir perdão. Uma chance pra trabalhar menos, sorrir mais. Uma chance pra fazer tudo diferente. Uma chance pra viver! Me compadeço e compartilho da dor dos enfermos, do desespero dos profissionais da saúde. Do trabalhador que perdeu seu emprego. Da mãe que não tem um chocolate pra dar ao seu filho na páscoa. Do humilde que não tem o básico pra sobreviver. Do órfão, da viúva e dos necessitados. E a você que está lendo esse texto com saúde e com comida na mesa, SEJA GRATO. Reconheça sua pequenez e valorize o tempo que te resta. Ele pode estar acabando!

Priscila Alves Bion

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