O Invisível da Casa

Às vezes, eu me pergunto se ainda existo.
Não falo da existência biológica, dessa respiração automática que insiste em continuar… Falo da existência sentida, reconhecida, acolhida.
É horrível ser um estranho dentro da própria casa.
Eu estou lá. Caminho pelos corredores, cumpro tarefas, às vezes até sorrio por educação. Mas não pertenço. Não sou parte das conversas; quando sou, geralmente é como motivo de crítica ou reclamação. Meu nome aparece apenas quando algo deu errado. Meu silêncio, quando aparece, é ignorado. Minha voz, quando tenta falar, é cortada.

“Sou como um morto entre os que descem à cova; sou como um homem sem força.”
Salmos 88:4

Meus sonhos? Riem deles antes que eu termine de explicar.
Minhas ideias? Rechaçadas com um olhar de desdém.
Minhas dores? “Depois a gente conversa…” (Mas esse "depois" nunca vem.)
É como se eu fosse um fantasma presente, mas não notado.
Como se minha história tivesse sido apagada antes mesmo de ser escrita.
Como se eu tivesse morrido em vida, e só eu percebi.
O mais doloroso de tudo é que isso não acontece no mundo lá fora, mas dentro da minha própria casa, no lugar onde, teoricamente, eu deveria ser mais amado, mais ouvido, mais visto.
E então, eu oro.
Não porque sou forte, mas porque sou fraco demais para aguentar isso sozinho.

“Clamei a ti, ó Senhor, e disse: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes. Atende ao meu clamor, pois estou muito abatido.”
Salmos 142:5-6a

Falo com D'us não com palavras bonitas, mas com silêncios sufocados. Com lágrimas que só Ele vê. Com uma alma cansada de lutar pra existir. E mesmo quando não vejo a resposta, sei que Ele me vê. Que, pra Ele, eu não sou um fardo, nem uma nota de rodapé. Sou filho. Sou alguém. Ainda que o mundo me trate como invisível… D'us me enxerga por inteiro.

“Tu me cercas por trás e por diante e sobre mim pões a tua mão... Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua presença?”
Salmos 139:5,7

E talvez, só talvez, enquanto escrevo isso, eu esteja deixando de ser invisível, pelo menos pra mim mesmo.
E, quem sabe, pra alguém que esteja lendo isso agora e se sentindo exatamente como eu.
Se você se sente assim, saiba: nós não somos os únicos. E não estamos sozinhos.

“Ainda que meu pai e minha mãe me desamparem, o Senhor me acolherá.”
Salmos 27:10

Kleyton Mello

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