O Pátio do Grande Sinedrio

Já parou para pensar em como, hoje, nesse palco interminável da internet, quase todos tentam hypar repetindo as falas de políticos que todos sabem ser corruptos? Não falo aqui como quem toma partido de um dos lados que polarizaram o debate. Falo como quem observa de fora, com ceticismo, vendo multidões que não compreendem o que fazem nem o que dizem. Apenas repetem. Como marionetes, ecoam aquilo que seus líderes proclamam, sem análise, sem crítica, sem o mínimo esforço de discernimento.

E o que mais impressiona é que, enquanto gritam contra a corrupção, acabam se condenando junto com aqueles que denunciam falsamente. É o velho hábito humano: indignar-se seletivamente, com voz de justiça, mas sem fundamento verdadeiro.

É então que a pergunta inevitável surge: não teria Yeshua passado pelo mesmo, quando foi perseguido e condenado à morte pelo sinédrio?

Se olharmos com calma os evangelhos, veremos que Ele foi acusado de blasfêmia, de conspirar contra Roma, de desrespeitar a Lei. Nenhuma dessas acusações, porém, resistia ao exame da verdade. Mas a verdade não era a moeda corrente naquele tribunal religioso-político. A moeda ali era a manipulação. O sinédrio distorceu falas, inflamou o povo, espalhou acusações sem base. E a multidão, sem pensar, apenas gritou o que mandaram gritar. Dias antes, aquela mesma gente aclamava: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!”. Mas quando o jogo virou, gritaram: “Crucifica-o!”.

A lógica da turba é sempre a mesma: não pensa, não avalia, apenas repete. A indignação coletiva não nasce da consciência, mas do contágio.

Hoje, não é diferente. A internet tornou-se um pátio ampliado do sinédrio. O julgamento acontece em tempo real: cortes de vídeos, manchetes tendenciosas, frases descontextualizadas. A acusação se espalha mais rápido que qualquer defesa. O povo, por sua vez, repete. Poucos examinam. A multidão prefere a catarse de um grito indignado ao esforço solitário de pensar.

E assim vemos: pessoas que gritam contra a corrupção com as mesmas bocas que reproduzem discursos corruptos. Pessoas que acusam falsamente em nome da verdade. Seguidores que condenam junto com seus líderes, sem perceber que estão repetindo a mesma injustiça que dizem abominar.

Mas há um contraste profundo. Jesus, inocente, suportou tudo isso em silêncio. Não porque concordasse com a injustiça, mas porque havia um propósito maior. A condenação injusta não foi o fim, mas o caminho. A cruz não foi derrota, mas vitória. Ele não precisou “hypar” para provar sua verdade. Não apelou para a retórica da turba. Apenas permaneceu fiel, firme, obediente até o fim.

E nós? Nós preferimos crucificar sem entender nada. Corremos atrás de likes, de gritos de apoio, de indignação ensaiada. Não buscamos justiça. Não buscamos a verdade. Apenas repetimos slogans, frases de efeito, memes de ocasião.

Será que, ao reproduzir sem refletir, não nos tornamos parte daquela mesma multidão que gritou: “Crucifica-o!”? Será que não estamos, dia após dia, transformando as redes sociais num tribunal do sinédrio, onde inocentes e culpados se misturam e onde a verdade não importa?

Talvez a diferença seja esta: no tempo de Jesus, a multidão condenou o Justo que salvaria a todos. Hoje, a multidão apenas condena a si mesma, afundando todos num mar de vozes repetidas.

O silêncio de Cristo diante da turba não foi covardia. Foi força. Já o nosso barulho, vazio e sem reflexão, revela a mais vergonhosa fraqueza.

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